sábado, 26 de setembro de 2015

Conferência: Bullying e o olhar da Psicologia Moral

No dia 17 de setembro a UFSJ recebeu a Profª Drª Luciene R. Paulino Tognetta (UNESP) para uma conferência sobre Bullying e Psicologia Moral. A conferência foi uma promoção do  Programa de Extensão (PROEXT/MEC) PsicoEducar e do Grupo de Trabalho Profissionais em Psicologia Escolar/Educacional e Psicopedagogia da Região das Vertentes (GTPEPSI), contando com o apoio da UFSJ.


Luciene possui graduação em Licenciatura em Pedagogia, mestrado em Educação, Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano com período Sanduiche pela Universidade de Genebra e pós doutorado pela Universidade do Minho de Portugal. É professora do Departamento de Psicologia da Educação da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp - Campus de Araraquara e também pesquisadora e vice-líder do GEPEM - Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral - Unicamp/Unesp. Desenvolve ensino, pesquisas, intervenções nos seguintes temas: moralidade, ética, desenvolvimento afetivo, convivência escolar e bullying, e também é autora de livros de Literatura Infantil.

A conferencia aconteceu no Anfiteatro da Biblioteca do Campus Dom Bosco, onde estavam presentes, além dos alunos de psicologia e outras áreas de licenciatura da UFSJ, profissionais das áreas de psicologia, psicopedagogia e educação. Inicialmente Luciane nos mostra um vídeo onde uma aluna é agredida em uma escola ‘’por ser bonita demais”. O desconforto e a angústia tomam conta da plateia lotada do anfiteatro. Em seguida a conferencista lança uma provocação: “Que perguntas e observações podemos nos fazer diante desse vídeo? ”. As respostas dos presentes vieram em grande proporção:“Onde estão os adultos dessa escola? Porquê quem estava assistindo não fez alguma coisa? A ação da agressora foi premeditada? O que a garota fez para ser espancada? Que atitude tomou a direção da escola após o ocorrido?”. A partir daquelas respostas e perguntas que surgiram como reação ao vídeo a conferencista passou a articular uma concisa exposição dos conceitos sobre o bullying, de forma reflexiva e contando com a participação do público, fazendo desse momento um encontro imensamente produtivo.

Luciene falou-nos com propriedade, com total domínio do assunto. Apresentou exemplos práticos, e o melhor de tudo, apresentou soluções. Tivemos oportunidade de conversar com alguns alunos da graduação de Psicologia após esse encontro, e dos pontos mais marcantes da conferência, destacaram o clima que Luciene cria com o público. “Ela nos deu uma aula” e “respondeu bem as questões que apareceram”. Outro ponto bastante comentado entre os alunos foram as reflexões críticas sobre o problema do bullying. Uma das características que diferencia o bullying de outros conflitos é que ele acontece sempre longe dos olhos de autoridades e de forma repetitiva. Quem sofre bullying experimenta todos os dias uma perda de valor diante dos outros, esses outros são seus iguais, que participam da construção de sua identidade. Por que age assim quem se submete ao bullying? Por que quem pratica se acha pertencedor desse direito? Qual o papel do público ou expectadores que assiste calado ou incentiva esses atos? Sabe-se que são esses expectadores que promovem o autor e permitem essa desvalorização do alvo. Sem público não há espetáculo. Os atos de bullying são escondidos aos olhos da autoridade, mas dos pares não. O autor de bullying precisa que todos saibam o que fez com a vítima. Os espectadores, muitas vezes, ficam do lado dos mais fortes ou são indiferentes, por medo de se tornarem a próxima vítima. Falta a eles, dentre outras coisas, o sentimento de indignação?


Mas apesar da complexidade do tema, de este não poder ser reduzido a outros tipos de preconceito ou violação de direitos, a autora reconhece que há soluções. Todos os envolvidos com a Educação (educadores ou não) precisam entender de fato que tipo de violência é esta, para depois pensar em propostas efetivas de intervenção. Seguindo o adágio “Para acabar com a guerra é preciso, antes de entender a guerra, entender o guerreiro” a conferencista apresenta inúmeras pesquisas que buscam conhecer melhor os três “personagens” desta tragédia premeditada: o autor (ou Buller), a vítima e o público ou expectadores. Verifica-se, através das pesquisas, que o autor de bullying é um sujeito que possui uma escala de valores invertida, em que respeito, generosidade, solidariedade não são valores centrais para essas crianças e adolescentes. Por isso, é importante destacar que ele também precisa de ajuda, pois são sujeitos que carecem de “sensibilidade moral”, ou seja, não enxergam no outro um sujeito digno de respeito e por isso não consegue se sensibilizar com a dor alheia. Ao contrário do que as escolas têm feito quando identificam os autores, que é aplicar castigos ou punições, o que podem fazer é aplicar medidas que reforcem a reciprocidade, que estejam relacionadas com as ações do sujeito, encorajá-los a pedir desculpas e incentivá-los a reparar o mal causado ao outro, para que possam refletir sobre o que fizeram. 

Por sua vez, os alvos de bullying não têm forças para lutar contra seus agressores porque se veem como diferentes e indignos de valor. É preciso ajudá-los a se ver com valor, a se respeitarem para que possam sair do “estado” de vítima. 

Mas a escola precisa trabalhar também com os espectadores, são eles que promovem, estimulam ou dão razão ao autor. Portanto, precisamos trabalhar com os sentimentos desses sujeitos que têm dificuldade ou não conseguem se indignar, precisamos questioná-los: como vocês se sentiriam se isso acontecesse com vocês? O que vocês poderiam fazer para que isso não acontecesse mais? Para isso, é preciso construir espaços que envolvam a formação ética dos alunos (equipes de ajuda). Pouco adianta punir, julgar, denunciar à polícia. O que precisamos é formar cidadãos com valores morais.

Para saber mais sobre Luciene: https://www.facebook.com/lutognetta?fref=ts

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Grupo de Trabalho em Psicologia Escolar/Educacional e Psicopedagogia da Região das Vertentes

O GTPEPSI é um grupo de trabalho em Psicologia Escolar/Educacional e Psicopedagogia, formado por profissionais e interessados da região das vertentes, sob a coordenação do Professor Dener L. Silva (DPSIC/UFSJ) .O grupo faz reuniões mensais, e tem o proposito de realizar troca de experiências, aprimoramento e reconhecimento profissional.

Síntese do Segundo encontro, 14 de fevereiro de 2014:

Síntese do terceiro encontro, 24 de março de 2014:




Síntese do quarto encontro, 09 de maio de 2014:





















Síntese do quinto encontro, 08 de agosto de 2014:






















Para saber mais acesse: www.facebook.com/grupopepsi

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Educação: entre a vocação e o descaso



Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo,
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

Venho de uma daquelas famílias que respiram o magistério.  Sempre fui professor, minha mãe e meus tios eram professores. Durante anos ensinei na licenciatura, formando futuros professores. Greves e manifestações de professores não podem deixar de mexer comigo.
Minha mãe dizia que nunca faria greve, porque seus alunos tinham direito de aprender e não podiam ser penalizadas pelos erros dos adultos. Para ela, o magistério era um sacerdócio, uma vocação de doação às novas gerações.
Na universidade, um de meus professores, um dos marxistas mais bem preparados do curso e sempre coerente, escandalizou-nos ao dizer que era contra greves na educação. Greve, dizia ele, é para quem dá prejuízo ao patrão deixando de produzir. Se professores e alunos não produzem, os prejudicados são eles mesmos e a sociedade. Portanto, o que devem fazer é trabalhar e estudar ainda mais, para que o estudo seja realmente um instrumento de transformação da sociedade.
Diante do descalabro da educação no País, das más condições de trabalho e remuneração dos professores, tanto minha mãe como meu professor se posicionariam favoráveis aos protestos de seus colegas atuais e se mostrariam indignados com a repressão violenta que suas manifestações recebem em alguns casos.
Os professores não podem ficar calados diante da situação que está aí. Porém, anos de repetidas greves e manifestações pouco tem feito pela situação docente.
Ao mesmo tempo, as promessas e os planos dos governos têm tido sucesso na expansão do acesso à escola, mas pouco influem na qualidade da educação. Estudos internacionais, como o ranking mundial de educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), recém-divulgado, colocam o Brasil em 60º lugar entre 76 países. O PIB de uma das nações mais ricas do mundo e a qualidade de educação das mais pobres!
Um sistema injusto penaliza os trabalhadores não apenas explorando-os com salários baixos e cargas de trabalho desumanas. Ele também os penaliza destruindo o sentido do trabalho, fazendo com que deixe de ser ocasião de construção da humanidade do trabalhador para se tornar apenas “coisa” a ser trocada no mercado.
Para minha mãe, educar era um ato sagrado, que enchia sua vida de sentido e sabor e a aproximava de Deus. Para meu professor, era parte de sua luta para transformar o mundo, e como tal também era ocasião de realização pessoal. Hoje, sei que muitos de meus ex-alunos gostariam de viver a docência assim, mas até esta possibilidade lhes foi tirada – tanto pelas más condições de trabalho quanto por uma mentalidade que esvaziou o sentido da educação.
Outras pesquisas têm mostrado que a educação é uma das maiores preocupações da população brasileira. Mas qual é o apoio que as pessoas e os movimentos sociais dão aos professores, quando estes reivindicam melhores condições de trabalho, ou às escolas, que estão em condições materiais e humanas críticas? Escolas que contam com mais interação e apoio da comunidade (presença pais e familiares, participação dos estudantes em atividades comunitárias, etc.) obtém resultados melhores do que outras que estão em situação semelhante, mas não tem este apoio.
Poucas profissões têm, como a educação, este caráter de “vocação”, de chamado para uma missão de dedicação às pessoas e transformação do mundo. Esta é uma riqueza que os professores não podem perder, que o Estado deve sustentar com políticas educacionais adequadas e toda a população deve apoiar com reconhecimento e colaboração.

Jornal “O São Paulo”, edição 3052, de 20 a 26 de maio de 2015.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Girl Rising: Filme mostra como a escola mudou a vida de meninas em 9 países

Lançado em março de 2013, o filme "Girl rising" conta a história de nove meninas de 7 a 16 anos que vivem em comunidades de países pobres (Camboja, Nepal, Índia, Egito, Peru, Haiti, Serra Leoa, Etiópia e Afeganistão) e lutam pela oportunidade de ir à escola.


Dirigido pelo indicado ao Oscar, Richard E. Robbins, o filme é produzido pela aclamada produtora Martha Adams e narrado por atrizes renomadas, como: Meryl Streep, Anne Hathaway, Kerry Washington, e Selena Gomez. Cada uma das nove histórias é contada por um roteirista renomado em seu próprio país.



Girls Rising mostra a força do espírito humano e o poder da educação para mudar uma menina - e o mundo. Milhões de meninas enfrentam barreiras que os meninos não precisam enfrentar para estudar. E de acordo com Justin Reever, um dos produtores do documentário, o filme mostra que dar às garotas acesso à educação é uma maneira de "quebrar ciclos de pobreza, acabar com longas tradições de injustiça e educar filhos e filhas de maneira igualitária". Nele, são contadas as histórias de garotas como Azmera, uma etíope que, aos 13 anos, se recusou a casar à força, Ruksana, uma menina que vivia nas ruas da Índia e cujo pai se sacrificou para garantir educação à filhas, e Wadley, uma menina de 7 anos que mora no Haiti e, mesmo sendo rejeitada pelos professores, volta à escola todos os dias para exigir seu direito de estudar. As outras protagonistas do documentário são Senna, uma poeta do Peru, Sokha, uma órfã do Cambódia, Suma, uma musicista do Nepal, Yasmin, uma pré-adolescente do Egito, Mariama, uma radialista de Serra Leoa, e Amina, que vive no Afeganistão.


Apesar de as histórias mostrarem vidas difíceis e impactantes, o filme traz uma mensagem de esperança.



Em uma pesquisa em vários países, os produtores de "Girl rising" visitaram diversas comunidades pobres para entender as causas da miséria e as alternativas e soluções para o problema. "Em comunidades presas em situações de pobreza, o que a gente encontrava é que havia muitas maneiras de acabar com esse problema, mas uma solução simples era educar as garotas", contou Justin em entrevista para o G1, em março de 2013. Foi assim que surgiu a ideia de encontrar e retratar histórias de meninas que ajudaram a transformar sua comunidade depois de receberem a oportunidade de ir à escola.

A escolha final das nove protagonistas foi feita pelas nove escritoras contratadas como autoras de cada capítulo. Elas também eram dos mesmos países e foram escolhidas para produzir os roteiros. As filmagens aconteceram entre 2010 e o fim de 2012. Ainda de acordo com Justin, o diretor Richard Robbins usou nove técnicas cinematográficas diferentes para dar a cada história um toque específico. O capítulo de Senna, a adolescente peruana estimulada por seu pai a se dedicar aos estudos, foi filmado em preto e branco, por exemplo. Ao contar a história da radialista Mariama, foram usados efeitos de animação.

Dirigidas por Richard Robbins, as protagonistas parecem atrizes experientes. "São lindas, talentosas diante da câmera, nos surpreenderam", elogia Justin. Para ele, apesar das situações sombrias ou perigosas, o filme não é triste. "Essas resilientes têm esperança e olham com beleza para a vida. O documentário deve ser visto assim." Há dez anos, Justin trabalhava no Equador, Chile e na Argentina com iniciativas de combate à aids quando percebeu que mulheres que recebem educação mudam a comunidade. "Quando soube do projeto de Girl Rising, me entreguei: tinha ligação com minha paixão por contar histórias. Aprendo com essas garotas e me emociono com o impacto que causam nas plateias." 

Fruto de uma parceria com o canal CNN, patrocinado pela empresa Intel, o filme foi lançado no Brasil em DVD em 2014, e também pode ser assistido pela Netflix. Um capítulo foi disponibilizado pela campanha global 10x10, que instituiu o Dia Internacional da Menina, em 11 de outubro. "Queremos que igrejas, ONGs e escolas discutam a educação." Basta acessar http://girlrising.com/see-the-film/index.html#watch-sennas-story para assistir o capítulo que conta a historia de Senna.



sexta-feira, 24 de abril de 2015

O que Toca à Psicologia Escolar – Maria Cristina Machado Kupfer

    Seria possível uma junção entre Psicologia Escolar e Psicanálise? Essa é a temática principal do texto de Maria Cristina Machado Kupfer, que se encontra no livro Psicologia Escolar: em Busca de Novos Rumos.
Como área de atuação em constante transformação, a Psicologia Escolar procura sempre definir sua identidade: Qual é o papel do psicólogo escolar?
    Nessa busca o psicólogo encontrou a Psicanálise. “A Psicanálise era vista como uma prática não ideológica, e o que se pretendia, com a Psicanálise era transformá-la em um auxiliar, na luta pela transformação social: um homem mais equilibrado teria mais condições para lutar por ela” (p.53). Porém, em meio a empasses e choques de opiniões sobre a utilização da Psicanálise na Escola, destacou-se uma justificativa: “se a Psicanálise não se importa com os determinantes sociais, é porque ela está operando com o sujeito do inconsciente, e não com o eu do sujeito.” Dessa forma, “o eu é constituído por identificações, e se molda a papéis sociais, se encaixa em tipos psicológicos, varia com as condições históricas. Para a Psicanálise, todo trabalho psicológico, seja ele realizado em uma psicoterapia individual, seja ele em uma instituição, tem como alvo esse eu, e não o sujeito do inconsciente. Mas é preciso não esquecer que esse eu não se confunde com o eu do cogito, da consciência. Ele possui partes inconscientes, e é basicamente uma instância de defesa, o que o toma ‘cego’.” (p.54).
    A Psicanálise, porém, coloca um limite claro quanto a suas possibilidades fora dos consultórios: não se pode criar métodos pedagógicos inspirados por ela, e não tem os mesmos objetivos de qualquer trabalho institucional.


O “Espaço Psi” na escola

    Primeiramente, a Psicanálise em que se deve basear não é a das fases psicossexuais do desenvolvimento, nem a que aponta as motivações inconscientes para o comportamento. “A partir do ensino de Jacques Lacan (1901-1981), psicanalista francês, alguns parâmetros passam a dirigir de modo mais preciso o trabalho do analista. O discurso – e não o comportamento – é o alvo da análise, e uma vez que o inconsciente se estrutura como uma linguagem, o analista estará operando com as leis de funcionamento da linguagem, e extraindo delas a eficácia de sua ação.” (p.55)
Aliás, toda a instituição está estruturada como uma linguagem, sujeita às leis de funcionamento da linguagem, podendo-se ler os discursos que ali se apresentam como se lê o discurso de um sujeito em análise.
    Nessa leitura psicanalítica, o fracasso escolar aparece como um processo de fixação das crianças em estereotipias. Resultado de uma falta de circulação discursiva, já que os discursos institucionais tendem a produzir repetições, preservando o igual e garantindo a sua permanência, cristalizando-o. E vez ou outra emergem falas de sujeitos que buscam fazer rachaduras no que está cristalizado. “É exatamente como ‘auxiliar de produção’ de tais emergências que um psicólogo pode encontrar seu lugar: eis o que pode propor uma Psicologia na escola que opere com parâmetros da Psicanálise.” (p.55)
    “A falta de circulação discursiva é o início do fim de uma instituição, já que, não podendo jamais ficar parada, não lhe sobrará outra alternativa a não ser recuar, e iniciar a sua atrofia. Independentemente dos alvos a que se propõe essa instituição, eles não serão atingidos.” (p.56) Quando há circulação de discursos há participação e, consequentemente, responsabilização pelo que fazem ou dizem, beneficiando-se dos efeitos de verdade e de transformação que surgem quando há espaço para falas singulares.

Parâmetros do “Espaço Psi”

1) O objetivo é abrir um espaço para a circulação de discursos;
2) O psicólogo terá autorização para intervir quando estiver criada a transferência, seu principal instrumento de ação;
3) O psicólogo não recusará nem atenderá a demanda, ele escutará a instituição (escuta psicanalítica);
4) Seu trabalho está na interseção da psicologia e pedagogia;
5) Sua ética é dirigir os trabalhos mas não as pessoas. Não faz uso político do poder que lhe confere a transferência

    Para o sucesso deste psicólogo é preciso posicioná-lo em posição privilegiada frente a instituição para que ele possa “recolocar” a palavra através do discurso indireto e não participação ativa. É a escuta ativa dos relatos. Esta transferência de discurso é rica em detalhes como estigmatização, preconceitos e expectativas. E um psicólogo que se baseia nessa leitura poderá assim, propor-se a criar condições para a produção de mudanças.
    “O trabalho do psicólogo cria na escola um espaço que não existe concretamente, que não é nem a sala de aula, nem a sala da diretora. Nem o pátio de recreio. Trata-se de um espaço montado, de um recorte a partir de todos os espaços da escola. É um novo espaço que se cria quando se entra na escola.” (p.59) São as transferências e as falas encadeadas que vão construindo o campo psi em que circulará o psicólogo.
    A mudança, aparentemente simples, vai além de um descolamento da psicometria, das recomendações, de um processo de orientação que ultrapassa os laudos repletos de resultados e prognósticos. Na verdade, uma junção entre a psicologia escolar e a psicanálise necessita antes de tudo, ser cuidadosamente articulada, com as precauções necessárias para um enriquecimento dos dois campos, até mesmo porque há diferenças entre os objetos de interesse, as finalidades, os procedimentos, os operadores e, principalmente, quanto aos sujeitos que demandam por esses saberes.

terça-feira, 31 de março de 2015

Leitura: “Psicologia Escolar: Em Busca de Novos Rumos”

    Como profissionais ou estudantes, todos nós sabemos da importância da leitura e da constante reflexão sobre temas que envolvem nossa atuação profissional. Pensando nisso, o livro “Psicologia Escolar: Em Busca de Novos Rumos” nos desafia a lutar por mudanças. Mudanças que passam pelo compromisso do psicólogo com a criança que deseja aprender. Publicado no ano de 1997, este livro é considerado um clássico da psicologia escolar!


    O livro apresenta um conjunto de textos escritos pela equipe do Serviço de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. As organizadoras do livro: Adriana Marcondes Machado e Marilene Proença Rabello de Souza e autores: Maria Cristina Machado Kupfer, Beatriz de Paula Souza, Cintia Copit Freller, Yara Sayão, Jaqueline Kalmus, Renata Laureti Guarido, Renata Paparelli.

    O tema principal do livro é a tentativa de superar a “leitura tradicional dos problemas de aprendizagem”, comumente praticada por psicólogos que atuam na área educacional. O grande desafio para os psicólogos é construir uma pratica que questione o processo de exclusão escolar em que a maioria dos alunos se encontram, a partir do uso de referenciais críticos de leitura da realidade.

    “Neste sentido, este livro procura preencher uma lacuna existente na área, atuando em três direções: a) a reflexão a respeito do processo de escolarização; b) o questionamento dos instrumentos de avaliação utilizados tradicionalmente pela psicologia quanto à queixa escolar; e c) a apresentação de propostas de atuação psicológica junto a educadores, crianças e adolescentes.”
Uma leitura que, sem dúvida, vale a pena. Um convite a um mergulho num campo de relações que produz o fortalecimento de práticas baseadas em um compromisso com o direito da criança à escolarização.

    Alguns Capítulos: 1. A Queixa Escolar e o Predomínio de uma Visão de Mundo; 2. As Crianças Excluídas da Escola: Um Alerta Para A Psicologia; 3. O Que Toca à/a Psicologia Escolar; 4. Crianças Portadoras de Queixa Escolar: Reflexões Sobre o Atendimento Psicológico; 10. As contribuições dos estudos etnográficos na compreensão do fracasso escolar no Brasil; 11. Para além dos muros da escola: as repercussões do fracasso escolar na vida de crianças reprovadas; 12. Mães contemporâneas e a orientação dos filhos para a escola.

    Um livro escrito por pessoas que, sem dúvida, se tornaram grandes nomes na psicologia escolar. Entre os autores está Maria Cristina Machado Kupfer, graduada em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (1974), Mestre em Psicologia Escolar , no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (1982) e doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é Professora Titular da Universidade de São Paulo, e editora da revista Estilos da Clínica (USP). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Tratamento e Prevenção Psicológica, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise, infância, pesquisa interdisciplinar, educação especial, autismo e psicose infantil. Contribuiu imensamente para a psicologia Escolar com inúmeros artigos e livros. É membro fundador do Lepsi Laboratório Interunidades de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a infância.

    Marilene Proença, organizadora do livro, é  Membro da Diretoria da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (2002-2014) e Presidente Eleita para a gestão 2014-2016. Conselheira do Conselho Federal de Psicologia (2002 a 2004 e de 2011 a 2013).Vice-Presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP. Realizou estágio Pós-Doutoral na York University, Canadá (2001-2002, 2007). É Bolsista Produtividade do CNPq, nível 1C. Atua na área de Psicologia Escolar e Educacional, pesquisando, principalmente, os seguintes temas: processos de escolarização, políticas públicas em educação, formação do psicólogo e de professores, problemas de aprendizagem e educação, direitos da criança e do adolescente; psicologia, sociedade e educação na América Latina.


Este livro pode ser encontrado em várias livrarias. Para mais informações:


Boa leitura!